sábado, 19 de novembro de 2011

C. C. 9 - Let The Rain


Coração Caleidoscópio 9
Let The Rain

A chuva começou a cair. Não havia raios ou trovões ou qualquer outra coisa que trouxesse temor a ela; só amor e admiração. Estava calma, e ao mesmo tempo transformando tudo em novo, levando as coisas usadas e já velhas, tornando tudo dourado e brilhante, com cheiro de vida nova.
— O que você vai fazer? Louise perguntou, um pouco assustada, mas com um sentimento bonito e púbere nos olhos.
Spencer não respondeu. Continuou a beijá-la sem escrúpulos. Ela acabou aceitando os cortejos e os passeios que as mãos dele faziam em seu corpo; sentia-se suficiente.
Dado momento fecharam os olhos; fecharam os olhos e deram-se as mãos. A chuva batia no vidro do quarto de Ís, chamando-os desesperadamente para fora. Estavam como recém-nascidos, seguiram o rastro da chuva, chegaram juntinho das estrelas. Soltaram as mãos; as estrelas dançavam em círculos em volta deles, como se fossem fundi-los um ao outro. Flutuaram... Tornaram-se um único indivíduo, tão brilhoso, tão valioso, tão bonito quanto ouro. Tornaram-se amor! A lua, assim como as estrelas, estava escondida atrás das nuvens escuras que se desmanchavam em gotículas de amor. A lua cantava, tocava sua musica dos amantes, alegrava, dava mais força e fulgor aos dois.
A chuva desceu, levou-os de volta. Ela apertou Spencer com força, ele retribuiu. Deitou a cabeça ao lado do pescoço dela, ela colocou a mão entre os cabelos curtos e castanhos dele.
— Ah! Eu… Ela começou a falar, mas sua respiração estava tão ofegante que não conseguiu terminar. Spen continuava calado, mas respondia a tudo com seu corpo.
Em um ímpeto, estremeceu e se arrepiou inteiro. Ela apertou os olhos com força.
— Te amo.
Terminou. A chuva diminuiu, e aos poucos foi parando. Eles se abraçaram, outra vez, e deram um beijo terno.
I want to let the rain come down, make a brand new ground; let the rain come down… tonight [Eu quero deixar a chuva cair, fazer um terreno novo; deixar a chuva cair... esta noite]. Spen respondeu, cansado, com os olhos fechados.
Ela sorriu. Não sabia explicar como tudo havia acontecido, nem como se sentia agora. Não ligava mais para nada, não lembrava de nada, tinha deixado para trás toda aquela alma obscura de horas atrás; não conseguia imaginar como tinha pensado em deixar Bovary.
Em poucos segundos conseguia raciocinar milhões de coisas, interligar um ponto ao outro, lembrar de tudo o que viveram. Seu cérebro estava a mil, sentia a mesma sensação do primeiro beijo que deram, mas multiplicado ao infinito. Fechou os olhos, tentou sentir seu corpo. Abriu-os novamente, olhou a sua volta, viu Spen ao seu lado ainda com os olhos fechados; viu seus corpos cobertos por um lençol; viu seus pôsteres e lembrou-se de quando ele disse que também gostava dos artistas que ali estavam; viu seu vestido no chão, viu uma pequena mancha sobre o colchão. Pensou no que tinha acontecido, levantou-se vagarosamente. Caminhou até o espelho, parou ali em frente e ficou analisando seu corpo nu.
— Sou mulher! Não sou mais menina... Escorregou as mãos na cintura, se abraçou, fechou os olhos. Uma lagrima desceu.
Sentiu outras mãos sobre sua cintura, e alguém a abraçando.
— Você é a minha Madame, a minha femme; Emma.
Ela se virou de frente a ele, passou os braços sobre os seus ombros ossudos.
— Você andou fazendo academia ou algo do tipo?
— Ah... O Mark tem uns pesos lá em casa, e ai eu aproveito.
— Você está tão... Gostoso!
Os dois riram.
— Sério... Olhe só para os seus braços! Ela passou a mão sobre eles. Estão tão durinhos e grossos! Olhe só para seu tórax! Ela passou a mão sobre ele. Está tão definido... Olha seus “quadradinhos”... Gente... E suas pernas? Ela desceu a mão até a coxa esquerda. Está QUASE mais grossa que a minha!
Ele riu e balançou a cabeça.
— Sua boba! Corou.
Ela o abraçou, e foi empurrando-o até o ninho dos dois. Deitou-o, e consecutivamente deitou em cima dele.
— Eu não tenho nada a te dizer, mas... Depois de 10 meses juntos, brigar daquele jeito e nos reconciliar desse... Foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Ela sussurrou.
— Sabe que, na real, não acredito que fiz tudo isso? Ele prendeu uma mecha do cabelo de Ís atrás de sua orelha. Estou tão cansado.
Ela passou a mão sobre os olhos dele. Beijou os dois.
— Seus olhos são tão de Marlon Brando. Agora durma. Sussurrou no pé do ouvido dele, e deu um beijo no mesmo.
— Vou levar isso como elogio. Não quero dormir não, quero ficar com os olhos bem abertos para te vigiar, para que não fuja de mim!
— Bobo! E é sim para levar isso como elogio. Sabe que mais um pouco que você ficar mais forte, vai ficar igual ele?
— Um pouco, tradução, dois anos, não é?
Eles riram.
Ela pegou o controle do aparelho de som que estava no criado mudo ao lado da cama e ligou ele.
Something always brings me back to you. It never takes too long. No matter what I say or do I'll still feel you here 'til the moment I'm gone…[Algo sempre me leva de volta a você. Não demora muito. Não importa o que eu diga ou faça, ainda sinto você aqui, até o momento que vou embora...]
— Essa música é tão perfeita. Ele beijou a testa dela. É tão você.
— Mas você me conhece, e está em mim... Continuou. Meu lindo! Ela se ajoelhou sobre ele, apoiou os braços ao lado de sua cabeça e encostou a ponta de seu nariz na do dele.
Ele tentava beijá-la, mas ela afastava a cabeça. Quando era o contrário, ele virava o rosto.
— Para de ser chato! Ela disse, cerrando os olhos. Ele abriu um sorriso malicioso.
Ela tentou novamente, e obteve sucesso. Seus lábios começaram a se entrelaçar novamente. Ele desceu as mãos até sua cintura, pressionando-a contra ele.
A chuva começou a cair novamente. O relógio marcava duas horas da manhã, o domingo já havia começado em meio a chuva, amor, Spencer e Louise.
Ele tirou o lençol de cima de seu corpo. Louise olhou para ele e mordeu o lábio inferior.
— Mais uma? Ele sussurrou.
Toda La noche! Ela respondeu, e riu.
Chuva, querida, bendita, amada chuva. Água que cai das nuvens em forma de gotículas, precipitação atmosférica, banho dos apaixonados... Isso! Não há significado mais apropriado para essa chuva; imersão dos apaixonados no líquido da vida, na água, no céu, nos mares, em todos os cantos, em todos os lugares, em todo o amor. Caia chuva... Caia, escureça o céu, abra as comportas, mude as mentes, torne tudo suficiente. Apenas caia... Venha e traga a vida! Adorada chuva.

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