sábado, 19 de novembro de 2011

C. C. 7 - The Light


Coração Caleidoscópio 7
The Light

A vida, conforme o tempo passa, se torna mais corrida e complicada. Quanto mais crescemos – em números de idade – mais precisamos de espaço para evoluir conforme o tempo pede.
Spencer estava conseguindo, finalmente, balancear trabalho, faculdade e namoro. Era uma terça-feira, tudo indicava que o expediente iria terminar mais cedo. O telefone tocou, ele atendeu.
– Loja SeuPet, boa tarde.
– Spen?
– Ele mesmo!
– É a Ís!
– Ah sim. Diga qual é o desejo, Emma.
– Só queria saber se vai sair no horário normal.
– Provável que não. Parece que vou sair umas 4 horas, por aí.
– Então tudo bem, quatro e meia vou ao seu apartamento ok?
– Ok, beijo.
– Tchau.
Como um relâmpago, ele desligou o telefone e nas três horas seguintes não paravam de chegar clientes. Ele não iria sair as 16hrs, mas sim no horário normal; porém não teve tempo de avisar Louise.

Ela estava se arrumando quando Mônica entrou em seu quarto.
– Louise, você vai ao apartamento do Bovary?
– Vou sim, já são 16hrs não é?
– Já sim, vou com você ok?
– Claro! Ela soltou seu melhor sorriso.
Mônica estava mexendo no guarda-roupa de Ís. Viu o vestido qual ela havia usado na noite de comemoração dos sete meses de namoro e pediu emprestado. Ís emprestou, naturalmente, e reforçou que era o vestido que Spencer mais gostava. Mô se trocou, e as duas finalmente puderam ir até o apartamento dos garotos.
Ao chegarem lá, Mark abriu a porta. Deu um beijo no rosto de Louise, e uma piscadela para Mônica.
– Mark, Spencer ainda não chegou?
– Ainda não. Mas se vira aí, pega alguma coisa na geladeira, sei lá...
– Pode deixar. Ela riu.
Mark e Mônica sentaram-se no sofá. Ficaram ali em meio a carícias e beijos apaixonados, enquanto Louise foi pegar algo na geladeira – como Mark havia mandado. Lá tinha restos de lanche da noite passada; ela pegou-o e junto dele saches de maionese e ketchup.
Quando foi abrir o sache de ketchup, ele estourou e manchou o vestido branco que ela estava.
– Ah, mas que droga! Hoje não esta sendo meu dia de sorte! Droga.
– O que houve aí Ís? Perguntou Mônica.
– O sache estúpido de ketchup estourou e manchou meu vestido! Vou descer até o nosso apart e trocar de roupa. Ela caminhou até a pequena mesa que ficava na entrada e pegou sua bolsa. Beijos e juízo!
Ao fechar a porta, Mark procurou os olhos verdes de Mônica.
– Ela se foi... Ele disse, com os olhos ficando molhados. Ela acariciou o rosto dele e deu um sorriso cristalino.
– Não precisa ser agora, pode ser quando você achar melhor. Eu não ligo! Ela disse, mantendo o sorriso branco nos lábios.
– Eu acho melhor agora. Ele passou o braço sobre a cabeça dela, deitou-a no sofá. Começaram a se beijar.

Spencer fechou a loja, finalmente. O relógio marcava 17hrs e 43min. Estava exausto. Durante todo o caminho de volta para casa ficou pensando em sua namorada, como ela estava e se havia ido mesmo a sua “casa”. Passou em uma pequena floricultura e comprou duas margaridas; era uma forma doce de pedir perdão pelo atraso.
Chegou ao apartamento, abriu a porta sorrateiramente. Respirou fundo, com as palavras ensaiadas na boca, abriu a porta por inteiro. Ao dar o primeiro passo e olhar diretamente ao sofá, paralisou-se.
Caro leitor: não sei se foi dito, mas Mônica tinha alguns pequenos traços parecidos com os de Louise. Se parassem de costas uma ao lado da outra seria um pouco difícil reconhecer quem era quem. E para o azar de alguém, Spencer não era mestre em diferenciar coisas, principalmente quando estava assustado.
As mãos se soltaram, as margaridas foram ao chão. No sofá viu uma garota deitada em cima de Mark, o vestido de Ís jogado em cima do abajur, os dois com apenas as roupas íntimas. Ele ficou quieto, pegou as flores do chão, abriu a porta e desceu pelas escadas até o quiosque do Seu João.
Enquanto isso, Louise estava com problemas em achar alguma outra roupa bonita para colocar – mesmo tendo centenas de vestes. Por fim, decidiu colocar um vestido que era parecido com o que Mônica estava usando. Subiu até o apartamento dos meninos, abriu a porta e viu a mesma cena que seu namorado.
– Gente... Desculpa atrapalhar o climão, mas sei que vocês conseguem voltar melhores do que antes. Bom, meu namoradinho ainda não chegou?
– Ainda não. Tchau. Mark disse, com voz de quem estava dormindo.
Ela saiu, fechou a porta. Olhou em seu relógio e já eram 18h36min. Pensou onde poderia encontrar o dono de seus encantos, e lembrou o lugar onde ele sempre ficava quando não estava em seu apartamento ou no dela.
Foi até o quiosque do Seu João, o encontrou sentado em uma mesa bem afastada de todas as outras. Estava deitado sobre os braços, e na mesa uma garrafa quase ao fim de whisky.
Caminhou até ele, puxou uma cadeira e sentou ao seu lado.
– O que o senhor esta fazendo aqui?
– Não quero conversa com você. Ele disse, atropelando as palavras.
– Você esta bêbado, isso é incomum. O que aconteceu?
– C******, já disse que não quero conversa com você!
– Dá para olha para minha cara, p****? Ela se estressou. Não ia deixar que ele maltratasse-a como outra vez.
Ele levantou a cabeça com dificuldade, virou-a em direção a Ís e a apoiou nos braços.
– Você é uma sem-vergonha! Dissimulada, oblíqua! Ele disse, com a raiva fervendo nos olhos e nas veias.
– Eu não vou deixar que me insulte, mas não vou mesmo. O que eu fiz para você, seu inútil?
– O que você fez? Ainda tem audácia de me perguntar! Garota ousada.
– Não tente me tirar do sério, que você vai conseguir e a coisa vai ficar feia para o seu lado!
– O que você estava fazendo lá no maior dos amassos com o Mark? Se eu não dou “conta do recado”, me desculpe. É que eu sou muito atrasado e inseguro para você. Se ele tem fogo mais ardente que o meu, me desculpe. Se você cansou de mim, pelo menos me avise! E tudo bem, eu aceito a desculpa de que “foi de repente e você não conseguiu se controlar”. Só espero que esteja preparada para enfiar essa aliança no meio do seu...
Gee! Eu não acredito que está desconfiando de mim! Lágrimas floresceram em seus olhos. O coração não tinha mais forças para bater mais rápido de raiva, tristeza ou seja lá o que for. Ela pegou o copo e quebrou na cabeça de Spencer. – Isso é para você aprender a discernir as coisas antes de tirar decisões precipitadas! E aliás, se prepare para enfiar não só a sua, mas a minha aliança também no seu c*. Idiota! Não me procure nunca mais!
Deu as costas e seguiu para dentro do prédio. Enquanto isso, Spencer estava atordoado com o que ela havia feito, só sentia a cabeça doer. Passou a mão nela e viu que saia sangue. Seu João foi até ele prestar socorro.
– Meu filho! O que aconteceu! Ele estava apavorado. Venha, vamos para dentro. Vou ver o que posso fazer por você.
Passou um braço dele em seus ombros e o levou – cambaleando de bêbado – para dentro do quiosque. Lá ele lavou a cabeça do garoto e viu que só havia um pequeno corte raso acima da testa e outro pouco maior na mesma. Cuidou dos cortes, fez um curativo e deu bastante água para ele.
– Está se sentindo melhor, meu filho?
– Sim... Acho que não estou mais tão bêbado. Tenho que subir e acertar as contas com essa cachorra! Ele levantou. Obrigado por tudo seu João, estou te devendo várias!
– Imagine meu filho! E tenha juízo, tome cuidado com suas atitudes.
Bovary levantou-se com um pouco de dificuldade, mas conseguiu se estabilizar. Subiu até seu apartamento, primeiramente. Fez o mesmo processo de abrir sorrateiramente a porta, e ficou só a espiar. Viu uma cena que antes o amedrontara, mas agora achava muito bonita: a primeira vez de Mônica e Mark. Deu um sorriso sem graça.
– O que eu fiz! Sussurrou. Conseguiu, depois de tanta confusão, discernir que ali quem estava era Mônica. Fechou a porta, sentou no chão. – O que eu fiz! Estraguei tudo. Começou a chorar.
Deitou no chão, não ligava para quem passasse por ali e visse um homenzarrão de 1,89 metros chorando como uma criança de cinco anos. O coração doía tanto que não conseguia nem pensar, seus olhos se apertavam com força e a respiração estava difícil. Arrumou forças do seu coração e levantou-se. Dirigiu-se até o apartamento de Louise. Pegou a cópia da chave que tinha em seu bolso e abriu a porta, devagar.
Ela não estava na sala, e nem na cozinha. Ele foi até os quartos, os banheiros, a lavanderia, e não a encontrara. Viu uma sombra na cortina, que vinha da sacada. Foi até lá.
– Batendo fora do meu peito, meu coração está se segurando em você. Daquele momento eu soube, daquele momento eu soube. Ele disse, abrindo a cortina. Você era o ar em minha respiração, enchendo meus pulmões encharcados de amor. Uma confusão tão bonita, entrelaçada e ultrapassada. Nada melhor que isso; e a tempestade pode vir. Você é exatamente como o sol... exatamente como o sol! Continuou, sem se mover.
And if you say be alright I'm gonna trust you, babe, I'm gonna look in your eyes. And if you say be alright I'll follow you into the light [E se você diz estar bem, eu vou confiar em você, babe, vou olhar em seus olhos. E se você diz estar bem, eu vou te seguir pela luz]. Louise cantarolou baixinho o resto da musica que Spencer havia recitado.
Ela estava com os braços apoiados no ferro da sacada, com os olhos vermelhos e o rosto suado. Ele foi até o lado dela, passou o braço sobre sua cintura e colocou sua mão no ferro também.
– Eu não sei viver sem você. Me perdoa? Ele sussurrou, e começou a chorar silenciosamente.
Ela levantou a cabeça, olhou para o céu e a abaixou novamente. Deu um soluço, se aproximou dele e pôs a cabeça sobre o seu ombro. Ele deitou a cabeça sobre a dela; enquanto ela entrelaçava os braços na cintura dele.
– Você me ama porque sou frágil enquanto eu pensava que era forte. Mas você me toca por um pequeno momento e toda essa minha frágil força se vai.
Procurou os olhos dele como uma andorinha procurando sua direção de refúgio.
– Perdoa? Ele disse e uma lágrima dolorosa extrapolou de seu olho.
Ela balançou a cabeça que sim, refugiou novamente sua cabeça nos ombros dele. E o sol estava se despedindo deles com um sorriso em toda sua face iluminada, com o céu alaranjado como fogo e a lua recepcionando o casal tão apaixonado.

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