sábado, 19 de novembro de 2011

C. C. 12 - Breathe Again


Coração Caleidoscópio 12
Breathe Again

Carro estacionado, malas prontas. Mas que tipo de coração não olha para trás?
Louise pegou suas roupas e algumas outras coisas que eram mais importantes e colocou em uma grande mala. Enquanto juntava tudo revisava a atitude que iria tomar. Caminhou até a cozinha, olhou o brilho da sacada. Conformou-se que isso seria o melhor para ela, ou não. Pensar só em si não ajudava muito, porque sabia que se ficasse distante as coisas ficariam piores para ela. Mas tinha 22 anos e uma longa vida pela frente, explicações não estavam sendo a melhor opção, e se explicar era o que ela menos queria agora.
Aproveitou que era uma quinta-feira qualquer e todos estavam trabalhando, e ela tinha o dia de folga. “Minha única chance”.
Caminhou pensativamente até a sacada, apoiou os braços no ferro e ficou olhando tudo que sua visão conseguia alcançar. Respirou fundo, fechou os olhos. A brisa estava gelada, e um pouco mais forte que o normal. O céu estava azul, parecendo os céus de pinturas renascentistas.
Respirou fundo outra vez, abrindo os olhos; coçou a ponta do nariz e voltou ao quarto. Sentou-se em frente à sua penteadeira, analisou seu rosto, retocou a maquiagem. Abriu a segunda gaveta a direita e pegou seu óculos de sol. Foi até a cama, pegou a nécessaire e sua mala que estava ao pé da cama.
Caminhou até fora do quarto; antes de fechar a porta olhou para dentro dele.
— Boa sorte para nós! Sussurrou.
Foi saindo do apartamento, não deixou cartas nem nada. Pegou o elevador, desceu até o térreo.
Estava com o cabelo solto, o óculos, um vestido preto com o ombro caído e um cinto marcando a cintura da mesma cor. O vestido tinha desenhos transparentes de nuvens, arco-íris, raios, cerejas e cogumelos sorrindo. Estava com um peep-toe vermelho.
Enquanto caminhava decidida até o seu carro, olhou para o relógio; eram 8hrs 42min. Chegou até ele, colocou as malas no banco do passageiro. Respirou fundo, fez uma oração. Abriu a porta, sentou; deu a partida.
— Hey! Ouviu de longe um grito.
Olhou para trás. Era Spencer, com as mãos na cintura e uma expressão azeda.
— Onde você está indo? Ele disse e veio caminhando até ela, depois começou a correr.
Ela se arrependeu eternamente (nesse momento) de não ter colocado as malas no porta-malas. Bateu a cabeça no volante, de tanta raiva.
— Onde você está indo? Ele repetiu quando chegou ao lado dela.
— Vou para casa dos meus pais. Ela disse, sem olhar para ele.
— Em plena quinta-feira? Ele balançou a cabeça com indignação. Lembra que dia é hoje? Aliás, que dia vai ser amanhã?
— Lembro... Ela respondeu sem muita certeza.
— Ah, não! Você não vai sair daqui nem hoje, nem amanhã. Pode sair desse carro, agora! Ele continuava balançando a cabeça freneticamente.
Ela respirou fundo. Pediu licença, deu a ré no carro e seguiu em frente. Ele ficou extremamente furioso, sai correndo atrás dela, e como tinha ganhado resistência nesses últimos meses por causa da academia e tinha as pernas compridas, conseguiu alcançá-la.
Pulou dentro do carro, caiu deitado no banco de trás.
— Seu tonto! Poderia ter esborrachado a cara no chão! Ís virou para trás e disse, exacerbada.
— Eu quero que me diga o porque de estar indo embora; seus pais estão com algum problema? Ele se levantou rápido e colocou a cabeça do lado direito do banco onde ela estava.
— Se eu falar, você sai do carro? Ela dizia, olhando para frente, prestando atenção no trânsito.
— Claro! Disse alto. Que não. Sussurrou.
— Eu escutei.
— Você acha que vou sair do carro, e deixar que você viaje para longe 24 horas antes do nosso aniversário de namoro de um ano?
— Puts! Ela deu um tapa na testa.
— O que foi?
— Quase fiz uma “cagada” aqui. Mas era mentira, ela não tinha feito nada, tinha esquecido mesmo que era amanhã o dia.
Ele apoiou a cabeça no banco. Ficaram em silêncio, o rádio desligado.
— Me conta vai, por favor.
Ela respirou fundo, outra vez.
— Eu estou com problema.
— Que problema?
Ela ensaiou mentalmente o que dizer.
— Tudo que eu sei é que você é amável. A coisa mais amável que eu já vi. Eu queria que entendesse que é o meu garoto favorito; eu queria que soubesse que é a minha razão de estar no mundo; que seu sorriso é o meu sorriso favorito; que a maneira como se veste é o meu estilo favorito; eu queria que você não conseguisse me entender, mas sempre quisesse saber como eu sou. Eu queria que você segurasse a minha mão quando eu estivesse chateada, eu queria que você nunca esquecesse o meu olhar quando nos vimos pela primeira vez. Basicamente, eu queria que você soubesse que te amo, eu queria que você soubesse que preciso de você. Eu queria que sem mim o seu coração se partisse; que sem você eu passo todas as noites acordada. Eu queria ser a última coisa em que você pensasse antes de dormir. Porque você é a ultima coisa que penso antes de dormir.
Ele começou a chorar. As lágrimas saiam do olho dele com uma intensidade surpreendente; chorava como uma criança.
Quando pensava em começar a falar, os soluços o interrompiam e ele chorava mais ainda. Ela ficou com o coração pesado, se segurou ao máximo para não chorar, mas suas lágrimas adoravam partir de seus olhos.
— Você... Você vai terminar comigo não é? Ele conseguiu falar, mesmo com as interrupções dos soluços. Os olhos estavam inchados.
— Não... Não é isso!
Ele chorou mais ainda. Ela já estava na estrada; parou no acostamento, virou-se para ele.
— Eu não vou terminar com você, calma! Ela disse um pouco desesperada. Acariciou o rosto dele suavemente, como uma mãe consolando sua criança quando o pequeno animal da família morre.
— Você não ia falar isso sem motivo, eu te conheço! Eu sei que vai terminar comigo, eu sei. Ele balançava a cabeça, e as lágrimas continuavam a brotar em seus olhos.
— Calma, p****! Eu já disse que não vou terminar com você! Ela se exaltou, mas depois voltou ao normal e deu um beijo na testa de Spen.
— Então me diz, c******, o que você tem?!
Ela virou para frente. Olhou para cima, apoiou a cabeça no banco. As nuvens estavam tão bonitas, bem desenhadas; o sol refletia em seu vestido e os desenhos deixavam de ser transparentes e também ganhavam vida, assim como tudo que era iluminado pela grande estrela.
Tirou o óculos, colocou em cima da nécessaire que estava no banco ao lado. Virou-se para trás e pulou o banco, sentando ao lado de Bovary.
— Spencer. Me responde, me responde tudo o que eu perguntar.
— Tudo bem.
Eles se viraram um de frente ao outro. Olho no olho.
— Você tem 22 anos. Acha que é maduro o suficiente para essa idade?
— Não, com certeza.
— Você acha que tem condições para viver sozinho?
— Mentais ou financeiras?
— Financeiras.
— Tenho.
— E mentais?
— Não muito... Ele olhou para cima, pensando. Acho que tenho. Viver com os meninos é praticamente a mesma coisa que viver sozinho! Deu um riso curto.
Ela sorriu rapidamente.
— Seus pais...?
— Vão se mudar para Londres.
— E você? Ela respirou fundo no final da frase.
— Vou ficar com você! Aqui.
— Você acha que tem maturidade para criar, sustentar e manter nós dois?
— Por você eu tiro maturidade de onde não se dá para tirar.
Ela olhou para baixo e sorriu.
— Você tem capacidade mental de...
— Você vai fazer uma entrevista de emprego comigo é? Ou mudou de faculdade e vai fazer psicologia?
Riram.
— Deixa eu terminar a frase, por favor? Ele balançou a cabeça que sim. Obrigada!
Riram novamente.
Ela mudou a expressão para séria.
— Você tem capacidade mental de manter uma família?
Ele arregalou os olhos.
— Anh?
O coração dele acelerou ao extremo.
— Spencer.
— O que?
Ele ficou assustado, empalideceu.
— Eu estou grávida.
— O que? Ele gritou.
— Isso que você ouviu.
— Não! Não pode ser! Ele balançou a cabeça freneticamente, se afastou, saiu do carro e saiu caminhando de volta para a cidade.
— Melhor assim. Ela disse, sorrindo no final. Voltou para o banco da frente, colocou seus óculos. Ligou o rádio.
Out of breath, I am left hoping someday I'll breathe again… I'll breathe again. [Sem fôlego, sou abandonada esperando que algum dia vou respirar novamente... Vou respirar novamente] Cantarolou junto com Sara Bareilles. Seguiu embora junto ao vento, em direção ao nada, ou talvez de algo que a faça feliz.

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