sábado, 19 de novembro de 2011

C. C. 2 - Uncharted


Coração Caleidoscópio 2
Uncharted

Estavam sentados na sacada do apartamento de Spencer. A lua estava cheia, as estrelas eram muitas.
– O céu está numa combinação tão perfeita... Muitas estrelas, uma lua linda e completa... Ela suspirou.
– E eu também estou numa combinação perfeita. Com meu pijama, suco de laranja natural e bem gelado, com a minha Madame Bovary... Suspirou em resposta.
– Sua Madame? Virou-se e ficou encarando-o. Havia uma pequena mesinha no meio dos dois, onde a jarra e os copos permaneciam. Ali se encontrava também a mão dele.
– Bom, nos meus sonhos você é minha. Mas acostume-se, eu sonho demais. Ele tinha os olhos fixados no céu. Ela esticou o braço e pegou na mão dele. Estava gelada e soada, assim como a dela.
– Não é só nos seus sonhos que você me tem, não só nos seus sonhos. Ela sussurrou; era quase impossível de se ouvir o que ela havia dito, mas quando se tratava de Louise, ele não deixava nada passar em branco.
– Eu acho que estou apaixonado. Por você. Ele olhou para ela, que ainda tinha os olhos fixos nele.
– Apesar de eu achar muito cedo para nos apaixonarmos, eu também estou. Garoto, como você consegue fazer isso comigo? Ela riu. Ele também. Viraram-se para frente e continuaram a dividir confidencias por pensamento com as estrelas.
De súbito, a porta se abriu. Olharam vagarosamente para trás, e quando viram, eram os companheiros de quarto de Spencer.
– Nossa, que horas são? Ele sussurrou para ela.
– São duas e cinco.
– Chegaram cedo hoje. Quer conhecê-los?
– Não... Deixa para a próxima. Vamos ficar aqui, quietinhos. Ás vezes, quem sabe, eles nem vão desconfiar onde estamos.
Continuaram do mesmo modo que estavam antes. Os colegas de Spencer eram três rapazes. Ao contrário dele, eram fortes, sarados e cheios de mulheres. Talvez fosse isso que o deixava triste, ver os amigos cheios de garotas apaixonadas se jogando aos pés deles e Spencer ter só a mãe para chamar de sua. Mas agora, as coisas tinham mudado.
Os três rapazes se direcionaram cada um para um canto da casa. Banheiro, cozinha, sala de estar. Nem ameaçavam entrar no quarto, pois sempre que chegavam da balada Spencer ia direto para cama dormir.
– Não devemos sair daqui até ouvirmos a porta se abrir novamente, ou seis gritos diferentes.
– Por quê? Ela olhou amedrontada para ele.
– Eles trouxeram garotas. Você sabe o que eles vão fazer, não é?
– Sei sim. Todo fim de semana é desse jeito?
– Esse apartamento vira um bordel de sexta a domingo.
– Hm... E você participa dessas orgias? Ela disse com a cara fechada e tom de ciúmes na voz.
– Não – ele riu. – De todo o tempo que estou aqui, nunca trouxe garota nenhuma para casa. Eu não posso nem chegar perto delas que vão embora! Isso muito me irrita. Mas tudo bem, Seu João me disse que era para eu ficar tranqüilo que a garota certa com certeza iria chegar.
– A garota certa está aqui na sua frente! Ela levantou e sentou-se no colo dele. Ele sentiu algo estranho, um incômodo, uma sensação de mal-estar; pois nenhuma garota fazia isso nele. Ela se enroscou no pescoço dele e colocou a cabeça em seu peito. Fechou os olhos e sussurrou no ouvido dele “Quando o Sr. Solar estiver por vir, me avise”. E dormiu. Ele assentiu a cabeça e começou a mexer no cabelo dela. A sensação ruim tinha ido embora. O coração dele estava acalentado nesse momento. Ele sentiu-se seguro, com ela em seus braços. Ficou ali, acariciando a cabeça dela e bebendo o resto de suco que tinha. Colocou o celular para despertar cinco e quarenta da manhã; fechou os olhos e adormeceu também.
O céu começou a clarear, e o sol deu seus primeiros sinais de existência. O celular deu dois bipes, e ele acordou.
– Madame, o Sr. Solar está te chamando. Posso deixá-lo entrar? Ele sussurrou no ouvido dela, com uma voz apaixonada e apaixonante. Ela tirou as mãos dos ombros dele e coçou os olhos.
– Deixe-o entrar. Preciso conversar com ele! Ela disse, fazendo pose de rainha.
– Por favor, Sr. Solar, entre! Os dois riram. – Mas o que você tem a falar com ele, Madame? Posso ter conhecimento, ou é só com ele?
– Sr. Solar, que prazer tê-lo aqui! Há quanto tempo não nos vemos hein? Bom, o assunto que tenho a tratar com a vossa senhoria é de extrema importância. Está vendo esse rapaz ao meu lado? Bom... Quero apresentá-lo como o dono do meu coração! Ela disse, enquanto o céu estava clareando. Ele virou-a de frente à ele, olhou no fundo de seus olhos, pegou em sua mão e disse:
– Eu sou o dono do seu coração? Ela assentiu com a cabeça, fazendo bico de criança. – Então... Quer ter um romance comigo? Ela olhou de lado para ele, desconfiada.
– Ter um romance é o que? Namoro sério, ficar sério...
– Ter um romance é se amar, poder passar momentos assim como nós estamos passando, poder pertencer um ao outro e não ter distinção de relacionamento. Se alguém perguntar o que temos, responder apenas, “a gente se ama!” e nada mais. Aceita, Madame Bovary?
Ela se levantou e encostou-se na sacada, de costas para ele. Um sorriso explodia em seu rosto e a mesma vontade que sentiu algumas horas antes tomava seu corpo e seu interior.
– Se não quiser, não tem problema. Não vou achar ruim, não vou te matar nem nada... Não consigo nem matar uma mísera barata! Não mataria quem eu gosto. Ele disse, tentando dar explicações, já que tinha dúvidas se ela aceitaria ou não.
Virou-se a frente dele e ficou analisando-o, sentado naquela cadeira de palha; estava tão bonito, tão sedutor... Ela levou suas mãos até a barra de sua blusa e foi levantando-a sem pressa. Quando a blusa não cobria mais o seu umbigo, ele levantou e puxou-a para baixo.
– Não faça isso! Você é louca? Ele realmente estava sério, parecia bravo até.
– Você não quer me ver nua da cintura para cima? Colocou as mãos em volta dos ombros dele e mudou a expressão de criança para a de mulher sedutora. Rapidamente ele tirou as mãos dela de seus ombros e balançou a cabeça negativamente.
– Eu pensei que era diferente. Diferente dessas garotas aí – ele continuava a balançar a cabeça. – Eu não sou igual esses garotos que estão ali dentro. Não gosto dessas coisas, isso é errado, isso é feio... Imoral! Ele parecia estar indignado.
– Calma Sr. Bovary! Eu só estava brincando! Eu nunca faria isso, eu também não sou igual a essas garotas que fazem de tudo logo que conhecem o garoto! Eu só queria saber como você agiria. Pois bem, passou no meu teste. Você foi escolhido para ser o meu romance, não há mais maneiras de ir embora ou negar. Ela pôs os braços envoltos dos ombros ossudos dele novamente. Nasceu um sorriso nos lábios dele. Um sorriso tão lindo, tão puro, aliviado. Ela não conseguiu resistir, já fazia horas e mais horas que não beijava aqueles lábios macios. Quando ergueu os pés, ele empurrou-a para baixo pelos ombros. Curvou-se até ficar a altura dela, passou a mão em seu rosto e a pôs na nuca de Louise. Roçou os lábios nos dela, e com calma pressionou sua boca na dela. Suspiraram, ao mesmo tempo.
– Bom dia Bovary... Quem é essa moça bonita? Mark (apelido de Marcos, um dos moradores daquele apartamento) apareceu na porta que levava até a sacada. Ele estava com o cabelo bagunçado, sem camisa e com o zíper da calça aberto. Quando Spencer olhou para trás, uma loira apareceu atrás de Mark; falando coisas descabidas e censuradas, mas com o intuito de que eles fossem logo para o quarto “dar continuação ao round”. – Só ia te avisar que o quarto vai ficar ocupado... Entrei lá e não te vi... Mas, oi Ís! Agora estou mais seguro, sei que vocês dois não vão usar o quarto. A Ís é travada assim como você! Ele riu e fez um aceno de despedida.
– Conhece o Mark? Spencer voltou seu olhar a Ís.
– Conheço... Bom, vamos dizer que ele passou uns tempos lá no meu apartamento, com uma das minhas amigas... Ela deu uma gargalhada. Ele riu também. – Agora tenho que ir embora...
– Não vá! Fique mais um pouco... Aliás, fique mais um muito! Não quero ficar sozinho nessa casa que está cheirando orgia, eca! Ele fez uma expressão de nojo, ela riu muito.
– Sinceramente, também não gostaria que o MEU romance ficasse aí com esses seis depravados. Mas eu vou ter que ir, tenho que preparar o café para as minhas lindas companheiras... Já que eu não saí, tenho que preparar o café para elas. A gente se encontra mais tarde, pode ser? Ele assentiu com a cabeça. Deram mais um leve beijo, abraçaram-se e ele a levou até a porta do elevador. Abraçaram-se novamente.
– Eu não consigo te deixar ir embora... Posso te acompanhar até seu apartamento?
– Claro! Adentraram no elevador. Quando chegaram ao andar de cima, na porta do apartamento nº. 42, abraçaram-se mais uma vez. Ela tentava se soltar, mas ele não deixava. – Como um magrelo como você consegue ter tanta força assim?
– É a força do amor, demoiselle! Mas tudo bem, já preenchi muito seu tempo hoje. Exatamente seis horas e trinta e quatro minutos. Adieu, mon amour! Ele disse e foi dançando valsa sozinho até entrar novamente no elevador.
Adieu, mon vie! Ela respondeu, rindo. Quando ele se foi, deram um suspiro de tristeza. Seus corações estavam cheios de saudade. Porem, um sentimento novo, uma palavra pequena, mas que proporciona sensações infinitas; estava começando a nascer ali, naqueles corações. A paixão estava amadurecendo; e quando ela termina esse processo, transforma-se em uma linda borboleta. Uma borboleta bonita, grande, e que se chama amor. O amor... Sim, o amor. Que muitas dores traz, mas que dessa dor se extrai aquelas sensações mágicas que só ele pode trazer. Ele, em conjunto com a pessoa que se ama.

Nenhum comentário:

Postar um comentário