sábado, 19 de novembro de 2011

C. C. 4 - Hold My Heart


Coração Caleidoscópio 4
Hold My Heart

O céu estava tomando seu tom alaranjado de fim de tarde. Eles continuavam deitados, analisando as nuvens e suas formas, no banco de trás do conversível de Louise.
– Você descreve tão bem as nuvens, Ís. Ele falou, acariciando os cabelos dela.
– Acho que consigo descrever bem várias coisas. Eu sou muito observadora, e na minha vida eu tive muitos momentos como esse; de ficar a tarde inteira deitada no quintal de casa analisando as nuvens e o que elas poderiam significar. E você, é bom descritor?
– Para falar a verdade... Sou muito desligado com as coisas. Várias vezes meus pais chegaram a perguntar para a professora se eu tinha algum problema mental – riram. – Mas acho que consigo descrever você; pelo o que conheço até agora.
– Descreva-me se for capaz! Ela se virou para ele, olhou em seus olhos, deu uma piscadela e fez um bico charmoso. Os cantos de sua boca se curvaram para cima. Com uma vista dessa, que pedido não poderia ser atendido?
– Altura ideal. Pele morena clara, cabelo ondulado e castanho escuro. Rosto e corpo bem desenhado. Boca perfeita. O olhar então... Gosta de coisas vintage, pelo que notei em suas roupas e seus penteados. É estudiosa, familiar e bem amiga. Acho que só. Mas sou suspeito para falar de você, para mim você é perfeita.
Ela se virou para cima. Suspirou.
– Eu amei sua descrição. Mas me fez lembrar um ex-romance que eu tive. E não gosto de lembrar isso.
– Por que?
– Porque não foi uma coisa muito legal. Eu vivi momentos bons e inesquecíveis, mais foi meu primeiro “rolo sério” e não foi do jeito que eu imaginava; para ser sincera, não foi do jeito que eu queria.
– Por que?
– Ah... Eu era nova demais. Quer dizer, estava na idade meio que certa sabe? Mas as coisas foram rápidas demais e eu acabei desgostando da pessoa.
– Mas no que meu discurso pareceu com o seu ex-romance?
– Tudo, para falar a verdade. Você falou as coisas assim como ele falava; só que a única diferença é que ele caracterizava mais meu corpo do que meu interior. Eu sempre desconfiei que ele gostasse de mim mais por causa de meu corpo do que meu interior. E olha que eu não tenho um corpo daqueles.
– Olha, sendo parecido de novo com esse idiota, você tem um corpo bonito. Mas eu nunca dei valor para o corpo, porque o que vale é o interior. E eu vejo essas garotas “boazudas” que meus amigos ficam e vejo também que elas não valem nada. Talvez eu seja um pouco traumático com essas coisas meio que sexuais, não sei.
– Mas relaxa, eu aprendi a me controlar e não deixar que as coisas aconteçam rápidas demasiadamente. E eu sei que você não vai ser igual a ele. Ele falava que eu era perfeita, mas depois implicava comigo, sobre tudo. E eu não quero mais falar sobre isso.
Ela se sentiu vazia por um instante. Lembrar dessa experiência ruim não foi bom. Aquele medo de se envolver voltou. A mesma angústia, o mesmo nó na garganta havia voltado. Uma lágrima desceu de seu olho. Ela limpou-a e fungou.
– Eu quero dizer pra você, antes que o sol escureça, como possuir meu coração; porque eu não quero deixar você ir. Ela sussurrou, com a voz cheia de pesar e do reflexo de tudo o que ela sofreu pelo antigo relacionamento. Ele arrumou força, não sabia de onde, e virou-a de frente para ele.
– Eu quero aprender isso com o tempo. Quero descobrir você. E descobrir você sendo eu mesmo. Eu cansei de na minha vida eu ter que mudar o meu jeito em relacionamentos para agradar a garota, e ela nunca ficar satisfeita. E olha que eu tive um único relacionamento – ela riu, e algumas outras lágrimas desceram em seu rosto. – Não precisa chorar não, eu sempre fui o bobo da corte ou então o atalho para chegar nos “garanhões”. As garotas ficavam comigo para que meus amigos as notassem e depois fossem lá, ficar com as próprias. Por fim, me cansei disso e não fiquei com mais ninguém. Que coisa inútil. Mas olha, eu não sei o que falar nem fazer. Eu não tenho experiência em nada nessa vida, só de cuidar de peixes. Mas eles sempre viveram no máximo duas horas comigo. Tirando o Swin, que viveu duas horas e cinco minutos. Aliás, nem sei se ele ainda está vivo. Ah Cristo, o que estou falando! Era para tentar fazer você ficar bem, mas só estou falando coisas sem sentido.
Ela pousou a cabeça no ombro dele.
– Eu te amo. Sussurrou. Mais infelizes lágrimas brotaram em seu olho.
– Segundo os sintomas que os escritores dizem que se sente quando está amando, eu também te amo.
O céu estava azul escuro. Mas ainda não era noite, totalmente. As primeiras estrelas começaram a aparecer. A lua estava brilhante, como nunca. Ela começou a roçar os lábios no pescoço de Spencer. Ele fechou os olhos.
– Eu acho que isso é perigoso, não é? Ele sussurrou.
– Deixe-me fazer, apenas deixe-me fazer.
Sentia-se um pouco incomodado com o que estava sentindo. Em sua vida, conforme o tempo, aprendeu a viver sem garotas e os deleites que elas poderiam trazer. Durante muitos anos, se sentiu um assexuado, por ter se conformado em não amar ou desejar ninguém, já que elas nunca amaram ou desejaram ele com intuito verdadeiro. Era uma sensação boa, claro, mas antes de prazer trazia dúvidas e incômodo.
– Eu não me sinto muito bem com esse tipo de coisa.
– Realmente quer que eu pare? Ela levantou a cabeça e ficou olhando nos olhos dele.
– Eu não tenho costume disso, aprendi a não sentir vontade disso. Talvez eu tenha criado uma barreira entre eu, garotas, amor por garotas e prazer.
– Mas você quer que eu pare?
– Eu prefiro assim. Eu não gosto de ir rápido demais, se isso é ir rápido demais.
– Desculpe, Monsieur. E obrigada por me dar seus limites e me controlar. Foi desse jeito que eu acabei fazendo coisas que não devia.
– “Magina”, moça. Não queria fazer essa pergunta, mas que coisas?
– Nada demais, pode ter certeza. Repousou seus lábios nos dele. Ele colocou sua mão na nuca dela e puxou seu lábio inferior. Começaram a se beijar; um beijo diferente, mais intenso, porém não menos romântico. Fecharam os olhos e pela primeira vez – para os dois – sentiram uma sensação indescritível. Era como se um corpo estivesse a se unir com o outro, um sentimento mágico. Almejavam que isso durasse para sempre. Ele a virou para baixo, ficando assim, por cima. Roçou seus lábios nos dela, e beijaram-se outra vez. Se fechassem os olhos, sentiam-se flutuando, indo para junto das estrelas e da lua.
– Eu nunca me senti desse jeito, ela sussurrou.
– Espero que seja você a pessoa certa para mim.
– Eu sou você, agora. E quem sabe, para sempre?
– Desconheço os planos de Deus, mas que sejamos eternos enquanto duremos.
Ela se levantou e puxou a capota do carro.
– Quer passar a noite aqui?
– Prefiro no seu apartamento.
Ela riu. Levantaram-se, saíram do carro e foram até o apartamento de Ís. Ao chegarem lá, deram de cara com as outras três meninas que moravam com ela.
– Gente... Esse é o Spencer. Lembram dele?
– Boa noite Spencer! Elas disseram, em coro. Estavam sentadas no sofá, assistindo televisão.
– Boa noite! Ele levantou a mão como aceno, e automaticamente depois bagunçou seu cabelo.
– Vamos até o meu quarto. Pode ser? Ela sussurrou.
– Você tem um quarto separado? Que sorte! Eles riram. Caminharam até o primeiro quarto á direita. O quarto dela não era muito grande, mas era muito bonito e acolhedor. Tinha as paredes brancas, no chão um enorme e felpudo tapete rosa. Uma cama de casal, e atrás dela uma janela. Um guarda roupa na parede lateral direita, e um criado mudo ao lado da cama.
– Bem vindo ao mundo da Louise!
– Gostei desses pôsteres na sua parede... Ele caminhou até a parede lateral esquerda, onde tinham algumas fotos dos artistas preferidos de Louise, ou de filmes que ela admirava. – Gosto muito de Presley, também!
– Tudo bem... Deixe os pôsteres de lado porque o que importa é isso. Ela apontou para cama e tirou as sapatilhas do pé. Ele olhou com expressão de desconfiado para ela. Ela riu. – Calma, a gente só vai ficar aqui deitado. Eu dormi na sua casa fim de semana passado. Você dorme na minha hoje!
– Sorte sua que só trabalho á tarde! Ele tirou o chinelo e foi caminhando até a cama.
– Sorte nossa, porque de segunda eu trabalho apenas no período da tarde, também! Ela riu, maliciosamente. Ele se deitou do lado esquerdo da cama, enquanto ela engatinhou até o colo dele. Deitou a cabeça em cima de seu umbigo.
– Acho meio tentador você ficar aí... Eles riram. Ela mordeu a barriga dele. Ele deu uma bofetada na cabeça de Ís. Ela subiu a cabeça até ficar com os olhos na direção dos dele. Mordeu o lábio inferior de Spencer. Começaram a se beijar, outra vez.
Louise deitou a cabeça no peito dele. Abraçaram-se.
– Boa noite, Monsieur. Ela sussurrou no ouvido dele.
– Boa noite, Madame. Ele deu um beijo doce e apaixonado na bochecha dela. Fecharam os olhos e adormeceram.
Dormiram fácil, como dois anjos. Quão fácil é dormir nos braços de quem você se sente seguro, se sente acolhido. Quão fácil é dormir nos braços de quem se ama. Poder fechar os olhos sem ter medo do que poderá acontecer, sem ficar apreensivo ou inquieto. Amar é isso, sentir segurança em poder estar ou confiar todos os momentos de sua vida á alguém; é ser feliz e poder compartilhar a felicidade com uma pessoa na qual você sente um grande apreço. É isso, e com toda certeza do mundo, muito mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário