sábado, 19 de novembro de 2011

C. C. 13 - Bluebird


Coração Caleidoscópio 13
Bluebird

Louise seguiu caminho em direção ao nada. Passou toda a tarde na estrada, conhecendo novas paisagens e aprendendo novos caminhos.
Raciocinou a melhor maneira de fazer as coisas, e decidiu que o certo era ela voltar e ter a conclusão qual esperava. Olhou no relógio do celular e eram 16hrs 52min. Ainda tinha tempo.
Pegou o retorno e foi de volta à sua cidade. Chegando, se dirigiu à farmácia.
Estacionou o carro na frente do estabelecimento, desceu e entrou.
— Lídia, minha linda! Apoiou os braços no balcão e abriu um sorriso lindo.
— Oi anjo! O que veio fazer aqui?
— Queria pedir um favor... Mas tem que ficar entre nós duas, pelo amor! Ela arregalou os olhos.
— Ah sim, pode falar! Ela aproximou o ouvido para Ís sussurrar.
— O negócio é o seguinte: preciso de um teste de gravidez, mas preciso fazer ele aqui mesmo para que ninguém do AP desconfie. Você pode me ajudar? Por favor! Ela sussurrou, e fez uma cara de piedade no final da frase.
Lídia virou-se, caminhou até uma coluna das prateleiras, colocou a mão no queixo e ficou pensativa. Pegou uma caixa, olhou o fundo, devolveu para onde estava. Pegou outra, fez o mesmo processo e seguiu de volta a Ís.
— Tenho esse, é super requisitado aqui! Vai levar? Ela levantou as sobrancelhas.
— Ah! Claro que levo! Me diga o preço, pago agora, testo agora, decido tudo agora!
Lídia falou o preço, Ís pagou e pegou a nota da compra.
— Agora venha comigo, mas disfarce um pouco. Lídia fez sinal com a mão e seguiu para o interior da farmácia. Louise seguiu-a e entrou dentro da sala em que ela estava parada em frente. Era um banheiro. Ela deu as instruções de como fazer o teste, e disse que estaria ali fora a esperando, que qualquer coisa era só chamar. Ís assentiu com a cabeça e fechou a porta.
Respirou fundo e fez o que Lídia havia explicado. Fez todo o procedimento com os olhos fechados, com medo do que viria a saber e mais medo ainda do que iria acontecer depois do resultado. Terminado tudo, abriu os olhos e viu o que tinha dado. Abriu a porta vagarosamente, apagou a luz, olhou para Li e suspirou.
— E aí? Me responda logo porque estou com o coração na mão! Ela arregalou os olhos com curiosidade e no fundo daquele brilho um pouco de preocupação.
Suspirou de novo, encostou o braço na parede e olhou para baixo. Balançou a cabeça e depois a levantou.
Négative, mon amour!
As duas riram e se abraçaram. Lídia fez votos de juízo e de mais cuidado para ela, Louise afirmou que nunca mais cometeria o mesmo erro, se fosse depender dela.
Voltou ao seu carro, seguiu para o prédio. Chegando lá, já havia escurecido. Estacionou seu Impala, pegou suas malas e entrou pela porta dos fundos. Subiu toda a escadaria até o quarto andar, abriu a porta de seu apartamento e colocou – rapidamente – suas coisas lá.
Pegou o telefone, ligou para o apartamento de Bovary.
— Alô?
— Louise? A voz era de Mark.
— Eu mesma, amor!
— O que você quer, minha deusinha!
— Posso ir aí?
— Claro!
— Então tá. Beijo.
— Tchau.
Desligou o telefone. Foi até o banheiro, se olhou no espelho e arrumou o cabelo. Saiu, pegou o elevador e foi até o apartamento 37. Bateu na porta, Spen abriu.
— Oi... “Deusinha”. Falou deusinha com tom de desdém e levantou a sobrancelha esquerda, fazendo bico de reprovação.
— Posso entrar? Ela devolveu toda a apatia com um olhar frio.
— Antes de eu te responder, o que você veio fazer aqui?
— Vim falar com você, ou você acha que vim trazer quindim pro Mark? Deu um sorriso sarcástico.
— Então não precisa entrar, eu quero falar com você primeiro do que você quis falar comigo! Ele devolveu o sorriso.
Saiu cuidadosamente e fechou a porta. Seguiu em direção ao elevador e fez gesto com a cabeça para que Louise o seguisse. Saíram do prédio e foram até uma pracinha que ficava bem próxima dali.
Quando chegaram, sentaram em uma mesa de damas e Spencer desatou a falar.
— Olha, eu andei pensando... Ís olhava-o com expressão afetada — Eu posso parecer muito imaturo e sei lá, mas... Talvez isso que esteja acontecendo com a gente possa fazer com que eu cresça, né? Não posso garantir para você que vou ser o melhor pai da face mundial, mas vou tentar e... Desculpa, né, pelo acontecido de horas atrás. Achei melhor sair correndo de você, mas acho que não foi o melhor, né? Isso mostra o quanto eu sou imaturo! Eu estava lembrando que mal conseguia cuidar dos meus peixes, quem garante de um filho... Mas peixe não chora, né? E... É só. Ele olhou para os lados e abaixou a cabeça. Ela ficou em silêncio.
— É, olhando por esse lado, você seria um pai problemático. Ela disse, não desviando os olhos dele.
— Mas você tem certeza que está grávida mesmo?
— Tenho.
— Sério mesmo?
Ela virou os olhos.
— Desculpe, seu cheiro está me enjoando!
Colocou uma mão na barriga e outra na boca, levantou e saiu correndo de volta ao prédio.
— Espere! Ele gritou e correu atrás.
Entrou dentro da sala de entrada, foi até o banheiro feminino do térreo. Entrou lá, sussurrou procurando por ela, e a encontrou encostada na porta de um dos banheiros, com os braços cruzados.
— O que está fazendo aí? Olhou assustado.
— Te enganando. Sorriu e piscou vagarosamente.
— Anh?
— Eu fiz o teste hoje à tarde, e deu negativo. Não era isso que você queria?
— Não é bem assim...
— Pois pareceu. Idiota. Você pensou o que na hora que te disse?
— Passou um monte de coisas na minha cabeça, nada concreto.
— Olha só a prova de como você é estúpido: me ouviu dizer que ia ser pai e pulou do carro, saiu correndo! Nossa... Essa foi para por um ponto final nessa droga dessa coisa que temos.
— Mas espere aí... Você falou aquilo só para me testar? Ele colocou as mãos na cintura e fez uma cara de desacreditado.
— Não, eu pensava que era verdade até eu fazer o teste.
— Olha, você não tem nenhum direito de me xingar, de me dizer um monte de besteiras e muito menos de terminar comigo!
— E você?! Bateu uma palma.
Ele balançou a cabeça negativamente, foi até a pia que ficava logo de frente e apoiou as mãos lá, ficando com a cabeça baixa.
Ela começou a tirar a aliança do dedo, e durante os poucos segundos dessa ação lembrou-se das promessas feitas antigamente, na época de marés boas.
— Eu não quero isso de volta. Ele disse, sem mesmo olhar para trás. Guarde para você, não preciso disso.
Ela respirou fundo e passou a mão no rosto.
— Muito menos eu.
Caminhou até ele e colocou-a do seu lado. Voltou para onde estava antes.
— Eu tenho tanta raiva de você! Balançou a cabeça com os olhos cerrados. De imaginar que você dizia que me amava, e em um momento... Em um único momento! Um só! Não hesitou em me dar as costas e ir embora! Nossa... Sem palavras para você!
Ele se virou e deu um sorriso maroto.
— Ah Louise, vá se catar! Levantou a mão.
— Olha o jeito que fala comigo, estúpido!
— Você pensa que é quem para me chamar de estúpido, pela segunda vez, ainda por cima? Ele pegou no braço dela com força.
Ela ameaçou batê-lo com o outro braço, mas ele segurou-o também. Empurrou-a para dentro do pequeno banheiro e empurrou a porta com o pé.
— Olha, só vou te falar uma coisa! Largou os braços dela e apontou o dedo na sua cara. Você pensa bem na atitude que vai tomar; porque eu estou fingindo que não vi você colocar a p**** da aliança em cima daquela pia asquerosa! Você está fazendo idéia errada de mim, e ó... Não vou fazer esforço nenhum para te contrariar! Não vou me explicar, não vou falar o que eu senti; enquanto está sem a aliança no dedo eu não te devo satisfação N-E-N-H-U-M-A!
— Então espere um pouco!
Ela empurrou-o para sentar no vaso, abriu a porta, colocou a aliança de volta e voltou ao lugar de antes – fechando a porta.
— Pronto! Pode me falar! Ela colocou as mãos na cintura.
Ele respirou fundo, o rosto vermelho de raiva.
— Na hora eu pensei em você. Pensei nos planos que tinha me dito, nos planos que construiu para sua vida, e que talvez eles não tivessem realização. Eu não me importo de ser pai! Não me importei de essa criança-fictícia nascer, até porque se ela fosse considerada um erro... Coisa que desde aquele momento eu não considerei, ela seria um erro meu! Porque foi eu que não fiz o que devia, e te enganei dizendo que tinha feito por pura falta de disposição para ir buscar o bangue. Então... Eu sinto muito por ter feito você acreditado nisso, mas olha! Olha só o que você me disse e o que a gente andou passando ultimamente! Não tem cabimento coisas como essas! Que liberdade retrógrada é essa que tomamos um sobre o outro que nos cabe o direito de dizer o que queremos e não ligarmos para as conseqüências? Me desculpe Louise, mas agora... Quem desiste dessa “bosta toda” que temos sou eu!
Levantou, saiu do banheiro e sumiu.
Ela ficou boquiaberta, sem movimento algum. Sentou-se na privada, com os olhos arregalados e o corpo todo gelado. Lágrimas rolavam de seus olhos.
Ele saiu do banheiro e ficou encostado na porta do mesmo. Entrou de volta e foi até o banheirinho ao lado do que Ís estava. Sentou-se no chão, colocou a cabeça no meio das pernas e chorou sem fazer barulho.
As placas de granito que dividiam os banheirinhos deixavam um espaço de uma palma acima do chão. Ele pegou um pedaço de papel higiênico e escreveu, com uma caneta que tinha no bolso, “Me desculpa, por alguma coisa” e passou para ela.
Ís estava com as mãos apoiadas no rosto, e ele todo borrado da maquiagem molhada. Viu o papel e achou estranho.
— Spen? Perguntou, ajoelhando-se no chão. Tentou ver do outro lado, mas o espaço era pouco.
De repente, sua porta abriu-se.
— Oi. Era ele. Tentou esconder os olhos vermelhos.
Ela levantou.
— Vamos terminar mesmo? Enxugou os olhos.
— Você que decide, agora.
Ela pensou, engoliu seco.
— Me irrita você perguntar isso, sendo que sabe da resposta. Ela começou a chorar. Você sabe que eu volto, que eu te amo.
— Eu pergunto para ter certeza que não sou só eu que te ama, e te amo mais que tudo. Abriu os braços e balançou a cabeça.
Abraçaram-se.
Ele se afastou e ajoelhou-se em frente a ela.
— Tenho um pedido meio cabuloso.
Ela riu, um riso tímido... Mas não menos lindo.
— Faça!
Ele respirou fundo, olhou para baixo.
— Que horas são?
Ela virou os olhos.
— Hm... Não faço idéia.
— Consideramos que hoje é sexta...
— Tudo bem!
— Quer ir para San Francisco comigo?
— O que?
— Califórnia...
Ela riu, bateu uma palma.
— Está brincando comigo?
— Não! Ele riu, abriu aquele sorriso que desmanchava qualquer desavença desse mundo.
— Claro! Ela riu de volta.
Abraçaram-se novamente.
Ela o empurrou para o vaso, Spen sentou.
— Eu te amo, meu moreno! Ela riu e mordeu o lábio.
Caminhou até ele, sentou em seu colo. Beijaram-se.

Oh, let him go, bluebird!
Ready to fly, you and I…
Here we go, here we go!

[Oh, deixai-o ir, pássaro azul! Pronto para voar, você e eu... Aqui vamos nós, lá vamos nós!]


Fim

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