sábado, 19 de novembro de 2011

C. C. 6 - Say You're Sorry


Coração Caleidoscópio 6
Say You’re Sorry

Seis rápidos meses se passaram, carregados de sentimentos opostos, porém com o protagonista chamado amor. Durante esses seis meses eles não se viram muito, mas o suficiente para que um terço da saudade fosse embora. As coisas pareciam ansiar para que eles não se encontrassem, mas eles faziam sacrifícios – os dois lados – para se verem e não deixarem a linda chama daquele amor se apagar.
Era sexta-feira, completavam sete meses de romance. Spencer esbanjava felicidade para todos os lados. Tinha comprado uma linda aliança de prata para Ís, que tinha preparado uma surpresa para ele, com uma das coisas que ele mais gostava: peixes. Comprou um aquário grande com seis peixes de diferentes espécies e mandou colocar no apartamento dele. Marcaram de se encontrar a noite.
Spencer havia ido para a faculdade de manhã para fazer pesquisas na biblioteca, chegou em casa ao meio-dia. Entrou no apartamento e viu um belo aquário todo decorado maritimamente perto da sacada. Enlouqueceu. Chegou mais perto e em uma replica de submarino que estava lá dentro tinha um envelope dentro de um plástico. Abriu.
“Bom dia! Ou boa tarde... Ou até mesmo boa noite! Parabéns pelos 210 dias que vem me agüentando. Parabéns pela capacidade que tem de transformar um inverno rigoroso e escuro em uma linda e colorida primavera. Até agora foram 7 meses... Sete meses de uma longa história – ou não. Bom... Eu quero viver intensamente o nosso amor! Não importa se acabará hoje, amanhã ou quando eu morrer. Eu te amo, tenho certeza disso... Completa certeza! Estou feliz ao seu lado, com seus defeitos, com suas lindas qualidades... Você é tudo para mim, meu criador de peixes! Meu homem, haha. Eu te amo! Feliz sete meses, para nós! Madame Louise Bovary.”
Dentro do plástico havia um envelope, dentro do envelope havia um bilhete totalmente seco, lindo e apaixonado. Spencer por pouco não teve um infarto. Passou horas com os olhos grudados no vidro do aquário, observando seus novos filhos. A porta se abriu, virou com toda expectativa para ver quem era... Mas eram os meninos. Carlos e Felipe ficaram bobos com o presente. Mark ficou assustado, e como de costume, riu. Quando ele se assustava ou se surpreendia, ele ria.
– Nossa cara... O que é isso, hein! Carlos disse, deu dois leves tapas no ombro de Bovary. Carlos era alto, não muito forte, loiro de olhos cor-de-mel. Seu cabelo era bagunçado, prático, e muito bonito.
– Quanto tempo vocês estão juntos? Felipe perguntou.
– Sete meses, Fê.
– Parabéns garotão! É nóis! Felipe e Spencer fizeram um cumprimento com as mãos. Felipe, apesar de ser o mais quieto, era o mais bonito. Tinha os olhos azuis esverdeados, a pele morena e o cabelo castanho escuro. Às vezes usava moicano, às vezes o deixava bagunçado... Mas sempre chamava muita atenção. Seu corpo não era musculoso, era na medida.
– A gente vai ali no Seu João almoçar, depois nós vamos dar um rolê, firme? Felipe disse, se referindo a ele e o Carlos. Mark e Spencer fizeram sinal positivo com a mão e eles foram embora.
– O que achou, Marcos Silva? Bovary disse, zombando de Mark.
– Marcos Silva o car...
Mals Mark! Mas e a Mô?
– Não sei, cara. Acho que ela está estranha. Colocou as pernas na parte superior do sofá, ficando de ponta cabeça.
– Por que estranha?
– Acho que é coisa da minha cabeça... Faz um tempinho que a gente junto, sabe? Aí as coisas estão... Er... Esquentando, vamos dizer assim. E ontem eu estava meio bêbado, e não queria que a nossa primeira noite fosse comigo bêbado entende? Aí eu falei para ela que não era aquele dia, ela aceitou na boa... Mas sinto que ela ficou meio chateada. Eu já pedi desculpas, já dei presente, já fiz de tudo! Já até disse que eu amo ela, por isso que não quis fazer daquele jeito! Mas mesmo assim... Eu fico triste, tá ligado? Isso me deixa triste.
– Mark, você está brincando comigo? Não me diga que já faz quase cinco meses que estão juntos e nunca fizeram nada? Nossa! O rei das orgias se segurou durante cinco meses? Oloco!
– Que foi? Vai querer dar uma de sabido comigo? E você, o que já fez com a Ís? Mal beija a menina e quer folgar comigo? Vem para você ver, moleque.
– Desculpa aí, Senhor Razão! Só quis dizer que você ama ela, porque para se segurar e ainda negar quando as coisas esquentam...
– É verdade... Estou gostando dela de verdade, Bovary. Mas e você?
– Eu tenho namorada Mark, não gosto da Mônica.
– Ah, seu burro! Eu estou querendo dizer como está as “intimidades” entre você e a Ís.
– Nada demais. Você sabe Mark, eu não ligo para isso. Não tenho muita vontade de fazer essas coisas.
– Você não tem, mas e ela? Já parou para pensar nas vontades dela, sabidão? Ela já tem quase 20 anos, e é virgem. Você acha que uma garota de 20 anos, universitária, linda, tem uma penca de garotos aos seus pés, não quer dar um fim ao lacre?
– Credo, Mark! Eles gargalharam.
– É verdade, ué.
– Você está certo. Mas eu não sei como chegar e induzir a isso. Aliás, saber eu sei, mas não dou muito certo com essas coisas.
– Faz assim... Principalmente essa noite que vocês vão passar sozinhos no apartamento dela! Mark começou a dar dicas para Bovary, falando várias maneiras de como fazer aquilo. Ficaram horas conversando, leram revistas adolescentes – que na maioria das edições vem dando dicas ás meninas – e pesquisaram na internet. Riam imensamente ao ver as baboseiras que as meninas diziam, mas acabavam aceitando isso porque era o que elas queriam... E para ter o que eles queriam, primeiramente era preciso fazer o que elas queriam.
A noite chegou. Spencer foi tomar banho, Mark separou uma roupa para ele. Pareciam duas garotas de 15 anos ajudando uma á outra na primeira noite de amor com o namorado bonitão do último ano do ensino médio. Ele vestiu uma blusa cinza e uma camisa listrada cinza escuro com cinza claro por cima. Uma calça jeans azul bem escuro, um tênis novo que nunca tinha usado antes. Passou perfume quase no corpo inteiro. Estava pronto. Abriu a gaveta do seu criado mudo e pegou a caixinha de veludo preta com um laço pequeno e vermelho em cima.
– Não esquece de levar blusa, filho, vai fazer frio! E cuidado com os tarados no elevador! Mark disse quando Spencer estava saindo do apartamento, zombando da tarde maternal que tiveram.
Quando chegou ao apartamento 42, tocou a campainha com o coração. Ela abriu a porta sem muita demora. Parecia estar em câmera lenta, na visão de Bovary. Ela abriu um sorriso puro e destruidor, estava com os cabelos soltos e um vestido bege de bolinhas com um laço marrom marcando a cintura. Estava completamente estonteante.
– Boa noite, Monsieur! Pode entrar!
– Boa noite... Ele respondeu, completamente sem jeito. Parecia irreal ter uma garota tão bonita assim, amá-la e ser amado.
Ela fechou a porta, no aparelho de som tocava Sara Bareilles. Ela o abraçou por trás e beijou o ombro esquerdo dele.
– Gostou do meu presente, meu criador de peixes? Sussurrou.
– O melhor e mais bonito que já ganhei. Sussurrou em resposta, pegou as mãos dela que estavam em seu tórax e beijou-as.
– Venha, nós vamos comer sentados no tapete... Ela riu deliciosamente. Na mesa de centro tinha várias guloseimas que eles gostavam de comer e beber, principalmente a água com gás de Spencer. Ele se sentou em frente dela e começou a beliscar alguns salgados.
– Sabia que é falta de educação comer antes do anfitrião sentar à mesa? Ela disse, sentando-se do lado dele e colocando uma jarra de suco de laranja no espaço restante da mesa.
Na televisão passava um dos filmes antigos de Louise. Comiam, assistiam e riam. Quando as guloseimas acabaram, ela deitou a cabeça no ombro dele. Ele passou o braço na cintura dela e colocou a mão em sua perna. Ficaram assim até o fim do filme. Quando ele acabou, levantaram-se e começaram a arrumar a bagunça. Quando terminaram, ela foi procurar um outro DVD para assistirem. Ele ficou de pé, atrás do sofá, encostado e esperando ela. Quando voltou de seu quarto, deixou a caixa de plástico em cima do balcão da cozinha e foi abraçá-lo.
– Ah... Que gostoso ter você aqui! Ela cheirou a camisa dele. – Uau! Como está cheiroso hein! Deu uma risada acolhedora.
Ele acariciou seu rosto. Olhou nos olhos dela. Era a hora de dar o primeiro passo no plano dele e de Mark.
– Eu gosto tanto de você, Ís. Sussurrou no pé do ouvido dela. Ela abriu um sorriso inocente, mas todo malicioso.
– Eu também, grande amor.
– Você não acha que... Er... Que... – Ele se embaralhou.
– Que...?
– Que deveríamos dar um passo adiante no nosso relacionamento? Ele sussurrou e no fim da frase deu um beijo no pé do ouvido dela. Ela riu docemente.
– Se você perdeu todo o seu medo, por mim tudo bem. Não me preocupo comigo, me preocupo com você. Ela envolveu os braços nos ombros dele, olhou em seus olhos.
Ele balançou a cabeça e abriu um sorriso. Colocou uma mecha do cabelo dela atrás de sua orelha. Começaram a se beijar. Ele fez o que Mark ensinou, colocou uma mão na nuca dela e a outra em sua cintura; assim poderia controlar os movimentos da cabeça e empurrar o corpo dela para perto do dele. Foram se beijando até o quarto de Ís. Empurrou a porta com o pé, deitou-a em sua cama, como uma mãe coloca seu recém-nascido no berço – com todo o cuidado. Deitou em cima dela, a beijava com uma nova efervescência. Desamarrou o laço do vestido, pousou a mão em seu zíper. Abriu vagarosamente. Ela virou-o, ficando por cima. Levantou a sua camisa. Sentaram-se e ele a pôs em seu colo. Ficaram abraçados, se beijando. Um corpo colado ao outro. Nenhum avançou essa etapa, ficaram se amando com seus lábios e seus toques. Sexo não era uma coisa necessária, não naquele momento. Talvez ele estragasse toda a sensibilidade.
– Desculpa por... Ele sussurrou.
– Não há o que desculpar. Isso significa que talvez não seja nossa hora! Espera... Espera que na hora certa a gente vai ser o casal mais feliz do mundo. Ela acariciou o rosto dele e o beijou novamente. Deitaram-se. Ele deitou em cima dela, ela acariciava seus cabelos.
– Eu só te amo. Ele sussurrou, quase inexecutável para outros ouvidos; mas não para o de Ís.
– Eu também, meu criador de peixes. Ela virou-se e deu um beijo na testa dele. Ele fechou os olhos, ela apagou o abajur que estava á meia luz. Fecharam os olhos pela última vez, se abraçaram mais forte e adormeceram.

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