sábado, 19 de novembro de 2011

C. C. 5 - King Of Anything


Coração Caleidoscópio 5
King Of Anything

O quarto estava com as janelas abertas, o sol estava nascendo. Toda sua grandiosa luz estava adentrando o quarto de Louise. Ela abriu os olhos, olhou para o relógio e eram seis horas da manhã mais alguns poucos minutos. Virou-se para o lado onde Spencer estava dormindo.
– Oh meu Deus, cadê o Spencer? Assustou-se quando não viu o namorado ao seu lado. Levantou da cama e foi até a cozinha. Chegou lá e não encontrou ninguém. Foi até o telefone e ligou para o apartamento onde ele morava. Mark atendeu, mas disse que Spencer não tinha dormido em casa. Ela entrou em desespero. Sentou-se no sofá, colocou a cabeça entre os joelhos e começou a pensar onde ele poderia estar.
Pensou, pensou, e pensou. Concluiu que o único lugar que ele poderia estar era na lanchonete do Seu João. Colocou um roupão e desceu até lá.
Quando chegou, ele estava em uma das mesas, com a cabeça deitada sobre os braços e olhando dentro de um pequeno aquário.
– O que está fazendo aí? Ela disse, enquanto se aproximava.
– Vim buscar o Swin, ué. Ele não desviou o olhar de dentro do aquário; chegava a não piscar, até.
– E por que não me avisou, ao menos? Ela começou a se estressar, sem motivo, mas começou.
– E por que eu te avisaria? Enviou um olhar frio para ela.
– Porque você estava na minha casa, na minha cama, e porque você é meu... alguma coisa.
Ele virou os olhos em reprovação. Um fogo percorreu todo o corpo de Louise, ela puxou uma cadeira e sentou-se de frente á ele.
– Há quanto tempo desceu até aqui? Apoiou os cotovelos na mesa e colocou a cabeça entre as mãos.
–Por que você quer saber o que eu faço, em quanto tempo eu faço? Que droga!
Ela percebeu que o aquário estava vazio e que as mãos dele estavam sujas de terra. Provável que Swin havia morrido e ele estava de luto instantâneo. Ao levantar, empurrou propositalmente o aquário de vidro ao chão. Virou as costas e foi embora.
O sangue de Spencer estava mais quente que a lava de um vulcão. Ele ficou todo vermelho, levantou e foi atrás dela. Conseguiu, heroicamente, entrar no mesmo elevador á tempo. Pegou firmemente no braço dela, empurrou-a na parede.
– Que tipo de ser vivo você pensa que é para jogar o aquário, aliás, o MEU aquário, no chão? Ele estava extremamente bravo, chegava a ser charmoso ver ele naquele estado; sendo um machão.
– Louise, a boa. Ela estava adorando ver ele daquela forma, e desde que ele tinha pregado os dedos em seu braço ela estava com um sorriso malicioso e a sobrancelha esquerda levantada. Uma expressão tentadora á ele, que tinha vontade de beijá-la ali mesmo e esquecer o que aconteceu; mas queria continuar com o teatrinho e apreciar aquela face iluminada e toda sua malícia.
Who made you king of anything? Ele cantarolou e a encurralou mais um pouco.
– Não interessa. Agora me solta, porque não te devo satisfações... Assim como você não me deve nada. Ela se soltou e ficou a frente da porta. Ele a puxou de volta, de costas mesmo, e sussurrou em seu ouvido:
– O Swin morreu e eu fui fazer o enterro dele. Está bom para você, Madame? O elevador chegou ao quarto andar. Ela se soltou dele novamente, e ao sair mandou um beijo. Enquanto caminhava até seu apartamento, as portas se fecharam.
Ele se sentiu um tolo, queria ir até ela e mostrar quem era o “homem” da relação. Mas ele sabia que não iria aguentar, que iria sucumbir ao olhar no fundo daqueles olhos tão castanhos e tão envolventes. Apertou o botão para descer até o terceiro andar, e quando chegou ao apartamento Mark estava jogado no tapete da sala.
– O que é isso, Mark? Ele entrou e jogou a chave no criado mudo que ficava ao lado do sofá. Sentou-se ali.
– Estou pensando na vida, cara. Acho que cansei de pegar a mulherada.
– Não me diga que virou a casaca...
– Jamais! Sai fora! Ele levantou-se e ficou sentado. – Eu acho que estou apaixonado. Spencer caiu na risada.
– Quem é a vítima?
– Uma das amigas da Louise. Aquela moreninha gostosa, do cabelo pintado nas pontas.
– Ahhh, sim. A Mônica?
– Essa mesmo.
– Quando saiu com ela?
– O fim de semana inteiro. Eu não sei como ela conseguiu me fazer não pensar em sexo durante três dias! Spencer gargalhou novamente.
– Nossa, então é sério mesmo. Ela é legal, eu apoio! Ele levantou-se e caminhou até a geladeira. Pegou um copo com água e bebeu.
– Ela é legal, ela é legal... Mark imitou Spencer com tom de deboche. Levantou e fez o mesmo que o amigo. – Como se eu não soubesse disso e de outras coisas sobre ela.
– E o que vai fazer?
– Vou pedir ela em namoro. Passei 48 horas no total ao lado dela, sei da vida dela do começo até agora, ela é a mulher da minha vida, cara! Spencer riu, deu dois tapas leves no ombro dele.
– Vou dormir, quando for onze horas me acorda?
– Onze horas... Não vou estar aqui ás onze.
– Por que, Senhor Compromisso?
– Estou saindo agora mesmo atrás da Mô.
– Vai ir desse jeito aí? Fedido, sem camisa, com a bermuda podre e o cabelo bagunçado?
– Já que ela é a mulher da minha vida, ela tem que se acostumar a me ver desse jeito!
– Se eu fosse você só tomava banho, trocava de roupa e fazia o seu moicano tradicional e ia para lá. Ele foi caminhando até seu quarto. – Ah! E não se esqueça de colocar alguma coisa listrada, ela ama listras.
– Eu já sei, seu lesado. Ele resmungou.
Spencer entrou no quarto, se jogou na cama e ficou pensando no que aconteceu. Queria sim ligar para Ís, mas pensava que quem deveria ir atrás era ela mesma. Aliás, quem começou foi ela! Ficou reprisando mentalmente centenas de vezes a cena que havia acontecido, até que pegou no sono.
Quando eram onze horas e cinco minutos, o telefone tocou. Ele cambaleou até a sala – parecia estar sozinho no apartamento, pois ninguém se prontificou a atender o telefone – e atendeu.
– Alô?
– Oi...
– Spencer?
– Oi...
– Você está bem?
– Oi...
– Você estava dormindo, não é?
– Oi?
– Estou indo aí.
– Não.
Era tarde demais, ela já tinha desligado o telefone. Ele abriu a porta de entrada e se jogou no tapete de centro da sala. Seu cérebro ainda não tinha acordado.
Em menos de cinco minutos ela já estava ali, deitando em cima dele.
– O que você quer, pomba? Ele disse, bravo.
Oxe! Eu venho até você, sendo que quem é o errado é você, e você vem com patadas?
– Eu sou o errado? Se liga menina! Você que quer dar uma de rainha-de-nada cuidando da minha vida e eu sou o errado?
– Cala a boca!
– Você que pediu! Ele a virou no chão e a beijou. Ninguém sabia, nem ele principalmente, o que estava acontecendo com ele. Ele a beijou fervorosamente, pressionando seu corpo no dela. Ela não sabia o que fazer, mas estava admirada com esse lado Spencer de ser.
Ele começou a beijar o pescoço dela, ela fez aquela expressão maliciosa igual a de quando estava no elevador. E repentinamente, ele parou e se levantou. Caminhou até a despensa e deu um gole no resto de whisky que tinha ali. Voltou-se até ela, estendeu a mão para levantá-la e a beijou novamente. Ela se sentia uma menina nos braços de um homem, sentia-se como se ele estivesse no comando e a ensinando como se deveria fazer isso; sentia-se como em um primeiro beijo. As mãos dele passavam em sua nuca e seus lábios dançavam com os dela. Quando ela saiu do transe e foi reagir, desceu a mão até a barra da blusa dele; colocou a mão dentro dela, mas ele parou de beijá-la e afastou-a de si.
– Tenho que ir trabalhar. Ele disse com uma expressão fria no rosto e as mãos na cintura.
– Está me mandando embora? Ela estranhou.
– Você quer ficar sozinha no meu apartamento?
– Não! Ela deu um sorriso infantil.
– Então eu estou praticamente te mandando embora. Eu tenho que tomar banho, me arrumar, almoçar e ir até o centro. Tudo isso em uma hora.
– Desculpa, Senhor Compromisso. Já estou indo.
Ela caminhou até ele, olhou em seus olhos e deu um sorriso puro. Ele não conseguiu manter a postura atrevida, abriu um sorriso que poderia ler-se “amor” no mesmo. Beijou a testa de Ís, e caminhou até a porta – que ainda estava aberta – com ela. Quando lá chegaram, ele pegou na mão dela, olhou em seus olhos e deu um leve beijo naqueles lábios tão macios. Ela envolveu os braços nos ombros dele, e se abraçaram. Ficaram um tempo desse jeito, envolvidos como dois pombos em seu ninho. Ela olhou em seu relógio e já era meio dia e quinze. Deu um beijo apaixonado nele, saiu e fechou a porta. Ele abriu um largo sorriso, trancou a porta e encostou a cabeça na mesma.
– Obrigado, meu Deus. Obrigado por ter colocado ela na minha vida. Ela é como uma canção da Bareilles... Suave, linda, envolvente e melodiosa. Ela é tudo para mim. Ele deu um longo suspiro, colocou a mão no peito. Suspirou novamente e caminhou até o banheiro.
Um sorriso estava estampado nos lábios dele. Não conseguia disfarçar, estava total e extremamente apaixonado. Estava amando ela, e cada dia, cada momento, cada pequena coisa que acontecia, esse sentimento aumentava. E era assim que eles queriam ficar, lado a lado, se amando e vivendo, um com o outro, um ao outro.

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